[para ouvir ao som de Múm]
Escrevo sob o signo da melancolia, uma saudade inexplicável de não sei o quê (desculpem o acento, força do hábito), uma sensação estranha de vazio, de... que foi que eu fiz? O que fazer? Cadê tudo? Chega!
Esta será uma postagem longa, apenas os pacientes e os que amam verdadeiramente a poesia lerão até o fim e, possivelmente, comentarão.
Abri a pasta rosa, peguei um dos seus escritos e li. Era uma carta falando do meu texto intitulado As Cartas. Já postei um fragmento aqui. Essa carta recupera pedaços da peça que escrevi, a qual trata do encontro de duas mulheres quase estranhas e muito diferentes. Já tentamos montar essa peça várias vezes mas nunca deu certo. Acho que vou fazer um filme.
“... li a peça e várias vezes reli. A solidão de Zoé não seria a profunda consciência da solidão de nós mesmas, que escrevemos e que tornamos a poesia nossa amante, pois sentimos sem compreender a efemeridade de tudo o que nos cerca?”
(...)
“Conheço-a através dos seus escritos e amo-a através dos seus versos”.
E recorta um trecho de As Cartas. [devo colocar quantas aspas?]
““... Querida amiga, para ti o meu pensamento é um pensamento de ausências...” Eu diria que em mim a sua presença entranha-se através desses versos com tamanha inteireza que ausento-me de mim para em você permanecer por vezes. (...) Em muitos lugares eu amei e contudo, não fui vista. Talvez isso nos aproxime.”
Adiante, cita Lautréamont: Escrever é agir com a lógica impecável de um movimento de ataque – qual um bicho que vai cercando, acuando a presa ao mesmo tempo que a mantém imóvel. E se esta sucumbe não é só porque se sente atraída pela precisão dos gestos do atacante mas porque nêles capta as forças que lhe dão forma e que surpreendem.
“Para dizer-lhe da emoção que em mim aflora os seus versos, retorno a Lautréamont e junto com ele prossigo a carta.
“Guardo dúvidas a respeito de nós. Pois como conciliar a frieza de vossos silogismos com a paixão quase cruel que deles se desprende?” No entanto, ao correr sobre o papel a mão vai dizendo sim. Quando a carta terminar o encontro já estará marcado. Dispenso-me de assinar, e nisso sou poeta. Vivemos em uma época demasiado excêntrica para que, por um instante, haja espanto com o que poderá acontecer. Tenho curiosidade de saber como conheceste o local onde habita nossa imobilidade glacial, rodeada por uma longa fileira de salões desertos, imundos ossários de minhas horas de tédio. Como dizê-lo? (...) Armemo-nos de paciência, na espera do instante que me lançará no entrelaçamento de vossos braços, inclino-me diante de vossos versos, que abraço.””
Abraços [é noite]
Comentários
Kissssssssssss a lot
"Do escritor alcóolatra e nunca publicado" Carlinhos