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gatos, silêncios e uma carta-cobra

Emílio, o gato-planta filho de Fifi.
Depois de muito tempo (o que é muito tempo?) retorno ao nosso convívio. Carnaval, gripes ... e O gato por dentro, de William Burroughs. Eu não sabia da relação de Bill com os felinos. Vou voltar a falar sobre este livro depois, quando terminar de ler. Agora destaco apenas uma passagem em que ele fala do ritual de iniciação dos oficiais da SS nazista que tinham de arrancar os olhos de um gato depois de alimentá-lo e acariciá-lo por um mês. A eliminação de qualquer indício de piedade. Perante ato tão brutal ele diz: “Qualquer barganha que envolva a troca de valores qualitativos como amor por bichos pela vantagem quantitativa não é apenas desonrosa. O homem não pode estar mais errado. Isto também é tolo. Por que você nada ganha. Vendeu o seu você."
O meu você, após um silêncio de semanas, e mais alguns gatos na barriga de Fifi,
revirou a gaveta e, ao reabrir a pasta rosa, de cara, foi abocanhado pela carta-cobra.
Desdobrou-a com cuidado e logo se deparou com uma seta apontando: começa aqui (cabeça)
... e serpenteando sua infinitude de papel, começa: “Alberta Hunter diria que esta linha infinita/ e ou (in)finita é a mesma que une ou liga-nos neste momento, no dicionário Agapêniano, esta carta seria uma ‘chinfrinagem’ ou seja chifres e sacanagem, assim o interpretei, vocábulo criado ainda hoje na Funga.”
Cortei a cobra em pedaços e fui montando uma colagem de lembranças. “Ontem entrou em cartaz uma peça com texto e direção de Hild Sena, estreando adolescentes (Itamar, Tarcísio e Fabrício) PEDAÇOS é o nome/título da peça.”
Que gracinha, Itamar tem clínica em Feira. Tarcísio é Tarcizio do Disco, dj buenas, blogueiro on the rocks. Fabrício não sei em que pedaço da cobra-vida está. ... e segue a cobra... “A Funga aguarda uma nova programação... Manuka recitando poesias e um tocador de flauta transversal por nome Netinho. (...) Luciano Pássaro continua fazendo poemas eróticos”. E vem uma poesia, não de Luciano, mas de Safo de Lesbos:
A lua já se pôs, as plêiades também: meia-noite;

foge o tempo,
e estou deitada sozinha.” – Safo de Lesbos.
“O amor agita meu espírito,
como se fosse um vendaval

a desabar sobre os carvalhos” – Safo
e de outros gregos poetas

“Bebamos.
Esperar as lâmpadas, por quê?

É breve o dia.

Traze-nos, amor, as grandes taças multicores...” – Alceu.

“... De nada adianta a queixa

por toda parte a vida será igual à flauta das serpentes

no país dos fantasmas
...” Gkátsos

os gregos, ah os gregos...
Eles gostavam de gatos?

Comentários

Rounds disse…
graça,

não conheço ainda este livro do velho bill.

fico contente pela recordação de pedaços. fabrício vai bem. é professor de educação artística em salvador.

foram bons tempos estes em que começamos a frequentar a casa da cultura galeno d'avelírio.

obrigao pelo carinho.

buenas!
Anônimo disse…
Gatasena:adorei o mini-conto.Baldur me deu esse livro incrível do W.Burroughs.Ainda não o li todo também.A monstruosidade Nazi(mais uma)ainda não sabia.Sim, os gregos são muito instigantes. Um encantamento.Acho que gostavam de gatos. Minha prima arqueóloga morou em Atenas e trouxe fotos lindas de gatos de lá. Beijo e muita saudade!A todas vcs. Doris
Jo (do Recife) disse…
Linda,
Eu de volta!
Pegou pesado no meu ponto fraco com esse desfecho grego. Ahhh! os gregos...
Como não resisti, aí vai um regalito pensado na sra:
"Igual aos deuses me parece
quem a teu lado vai sentar-se,
quem saboreia a tua voz
mais as delícias desse riso." (da nossa Sappho, naturalmente...)
Besos,
Jo

PS: Acho que gato é coisa de egípcio, né não? Bastet, a deusa com cabeça de gato e coisa e tal...

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