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Mostrando postagens de 2010

Flor

Flor Upload feito originalmente por rainha morbida nas vezes em que me assedia uma fome canibal rio-te o brilho dos meus dentes como um poema feito a quatro mãos querendo ser um pequeno poema infinito enlouqueço-te-me se aquele amor nunca fora angélico minhas cruzes numa só cruz das almas penadas : metafísica-metafísica metafique-se neste leito de ausências esperadas

Os cantares de Jônatas Conceição

AS SAUBARAS INVISÍVEIS A memória é redundante: repete os símbolos para que a cidade comece a existir. Ítalo Calvino Chega-se a Saubara pelo caminho do mar. Às velas, barcas velhas velejam rumo à baía. Viagem de gentes, trapos, mercadorias, Odores repelentes que recendem tumbeiros Travessia de longínquas noites (Aquela viagem era uma eternidade!) que ao vento cabia a tarefa de um porto feliz. Chega-se a Saubara por via de muitos rios Do rio para o mangue, do mangue-rio para o mar. Caminhos do leva-e-traz mercantil Ao porto de amaros negócios Percurso de antigos navegantes Fundadores do eterno dar-se saubarense Desbravadores de restos da flora e fauna do lugar. Chega-se, finalmente, a Saubara pelo primado da fé. Seus marujos e rezadeiras procuram, há muito, o caminho da salvação. Seus filhos e netos, há pouco, descobriram outros caminhos... Procuram, pela novidade alheia, desesperadamente, outra cidade inventar. Os perseguidores da fé a tudo ver oram choram (A São

O tempo

Tenho estado ausente nos últimos tempos. Culpa do tempo. Isto me remete ao poema da minha amiga distante Nena. Não a vejo há tanto tempo. Como há muito tempo não vejo Diogo, um amigo de muito tempo atrás que me mandou um recado e um número de telefone. Liguei, mas não o procurei. Sua voz estava tão fraquinha. Lembro dele quase todos os dias, mas tem faltado tempo para ir à cidade vizinha visitá-lo.Também gostaria de visitar minha amiga Doris, até prometi mas... Refletindo sobre o Tempo O tempo, Todo o tempo nos persegue: É o momento do atraso, Da hora passada, Da hora futura Dos minutos contados Do dia que não chega, Da noite que não passa, É o tempo de chuvas, É o tempo de graças E é o tempo de amar, É a hora de procriar É o minuto adiantado, É o dia atrasado, No tempo você está sempre sozinho. O meu tempo é diferente do seu tempo, Que é diferente do dele e também diferente do dela Sempre é ele a nos espreitar e nos dizer o que somos e como estamos Estou atrasada, Estou adian

A poesia de Jacinta Passos

Jacinta Passos: coração militante , livro que será lançado no dia 27 de julho na Casa da Cultura Galeno d'Avelírio, em Cruz das Almas e organizado pela historiadora Janaina Amado. Eu sou planta sem raiz que o vento arrancou do chão, já não quero o que já quis, livre, livre o coração, vou partir para outras terras, nada mais eu quero ter, só o gosto de viver. Nada eu tenho neste mundo, sozinha! Eu só tenho a vida minha. Jacinta Passos Trecho do poema Canção da Liberdade In: Canção da Partida, 1942-1944

rock poesia

Recolhi-me ao silêncio por esses dias. Deliberadamente. Não queria falar de perdas e despedidas, nem da poesia calada que não mais solicitará: "Diga uma coisa bonita!" O que o poeta esperava ouvir como resposta a essa pergunta? A beleza tem tantas faces. Beleza triste, beleza calma, beleza estrepitante. A beleza vigorosa da poesia que clama, que denuncia. A forte e bela poesia de Patti Smith nesse dia mundial do rock. There's no one in the village not a human nor a stone there's no one in the village children are gone and a mother rocks herself to sleep let it come down let her weep the dead lay in strange shapes Qana , de Patti Smith

Bye Dennis

Um dos meus atores favoritos, Dennis Hopper, saiu de cena mas deixou registradas cenas memoráveis. Em sua homenagem, uma cena do filme Blue Velvet com a magnífica Isabela Rosselini. Bye, Dennis

pepe e a princesa

  jacinta (algo se move dentro do tédio rastejante feito lesma epiléptica) poetas aos montes com voz de cal fingem não fazer o jogo sabendo-se o próprio jogo exortam os lindos burgueses (algo se move dentro do tédio feito cataporas desenhando a pele) adoravelmente lúcida à flor da loucura enxota-os Jacinta açoitando com a indiferença e a náusea as suas caras de porcelana In: Reflexos de Universos, 73

pra não dizer adeus

você não sabe dançar mas nessa noite nós dançamos numa saudade antecipada tentávamos capturar a essência fugidia que não estava mais ali eu partira antes de mim e você nem notou seu desespero tardio, tresloucada agonia já não adiantavam, eu não estava mais ali o corpo entre seus braços não era eu nem o olhar penetrando o fundo dos seus olhos era meu enquanto dançávamos eu já não estava ali ... para não dizer adeus a um querido amigo que se foi, sem se despedir, mas deixou os sinais da sua convivência e uma saudade sem tamanho.

Lua

Moon 3 Upload feito originalmente por paul great yarmouth Lua negra diabólica na minha janela mostra tua cara insólita (trecho da letra de uma canção de Nelson Magalhães Filho)

sextas-feiras santas e violeiras

Nas sextas-feiras santas ela cortava paletas a partir de chifres de boi, e sempre antes do nascer do sol. Numa simulada entrevista com Helena Meirelles, Uilcon Pereira a transporta para o mundo de Àssombradado. Biutificada, a violeira conta que seu prazer era tocar nas zonas, nos bordéis do poeirão de estrada. Nivelei meu destino com cavalgadas e homens de gatilho fácil, tocando por alguns tragos de cachaça. Aos trinta anos, resolvi, sozinha, bagunçar o coreto, mascar fumo, viver no cio e pintar o sarambé. No delta do Àssombradado Velho, todo mundo dançava armado. Numa pândega, um peão enlouquecido veio perto e queria enforcar a vileira-chefe. Até hoje, quando ouço o bater dos guizos, da tropa, do berrante, dos vaqueiros estalando a relha, penso “Ai meu Deus, se eu fosse um homem tava lá no meio.” Minha mãe fala “Helena Biutrice de Tróia Meirelles, és meio homem meio muié”. Eu respondo “Eu não sei nunca o que sou, sei que sou fanática por isso de tocar violão e viver junto com a peo

pintei de lilás

Com a poesia de mulheres que fizeram o diferencial no seu tempo, eu pinto de lilás este dia 8 de Março. "Abro os olhos, não vi nada Fecho os olhos, já vi tudo. ... Abro os olhos novamenteE vejo a grande montanha, Fecho os olhos e comento: Aquela pedra dormindo, parada dentro do tempo, Recebendo sol e chuva, desmanchando-se ao vento? Eu estou lá, Ela sou eu." Adalgisa Nery "olho muito tempo o corpo de um poema até perder de vista o que não seja corpo e sentir separado dentre os dentes um filete de sangue nas gengivas" Ana C. Essas, além de tantas Anas, Cristinas, Clarices, Cecílias, Hildas, Jacintas... e todo o alfabeto poético falem ao mundo que a poesia vive. Vida longa para a poesia, vida longa para as poetas. 

Vida Líquida

Slide 1 É crua a vida. Alça de tripa e metal. Nela despenco: pedra mórula ferida. É crua e dura a vida. Como um naco de víbora. Como-a no livor da língua Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me No estreito-pouco Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida Tua unha plúmbea, meu casaco rosso. E perambulamos de coturno pela rua Rubras, góticas, altas de corpo e copos. A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos. E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima Olho d'água, bebida. A Vida é líquida. (Alcoólicas - I) Hilda Hilst 

cores

Upload feito originalmente por Rick Van Pelt com quantas cores se faz um ano novo?